Com a estratégia certa, dá para usar milhas e viajar “de graça” pelo mundo
Especialistas no mercado de programas de
fidelidade ensinam como tirar o melhor proveito do sistema de milhas para
viajar mais
A lógica é
simples: você faz viagens e compras, ganha pontos, junta vários deles e depois
troca por mais viagens e compras. Mas a verdade é que, na prática, não é tão
fácil assim desfrutar de maiores vantagens dos programas de fidelidade das
companhias aéreas (leia-se “viajar de graça”). O sistema cresceu nos últimos
anos e as fontes para os pontos aumentaram, mas a quantidade de milhas
necessárias para resgatar passagens também subiu. Mas é preciso tempo e
dedicação para multiplicá-las.
“Só prestando
atenção e usando as artimanhas é que a coisa funciona de verdade”, ensina
Vicente Frare, editor do site de viagens TravelVince. O curitibano faz ao menos
uma viagem por ano no Brasil e ao exterior usando milhas — em 2017, já passou
por Indonésia, Nova Zelândia, Inglaterra e França, e ainda vai a Portugal no
fim do ano. Mas reconhece: “dá muito trabalho”.
Tiago Trindade,
gerente comercial do site de venda e compra de milhas aéreas Central Milhas,
tem uma avaliação parecida. “Quem quer viajar tem que ficar atento e ler
bastante. Há muitos detalhes e macetes para usar bem as milhas”, diz. “Mas tem
muitas estratégias que, se bem aplicadas, permitem que as pessoas consigam
viajar para muitos lugares do mundo de uma forma muito barata.”
Um método
eficiente de acúmulo de milhas envolve desde mudanças de hábitos nas finanças
pessoais, como o uso do cartão de crédito para concentrar gastos, até o
monitoramento constante de promoções e um bocado de matemática. O Viver Bem
conversou com Frare e especialistas do mercado de programas de fidelidade para
descobrir como tirar o melhor proveito deste sistema.
Veja as
principais orientações:
1. Entre no
jogo
Faça o cadastro
em um programa de fidelidade e comece a juntar pontos, mesmo que você ainda não
entenda muito bem como eles podem beneficiá-lo no futuro. A recomendação parece
óbvia, mas a avaliação do setor é que os brasileiros ainda exploram pouco este
mercado. A Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Fidelização (ABEMF)
estima que a penetração dos programas de fidelidade no Brasil está em torno de
8% a 10% da população.
“Em mercados
maduros, ela chega a 45%”, diz Roberto Medeiros, presidente da associação.
Não é um
privilégio para quem viaja. “Antigamente, os programas de fidelidade eram
basicamente para quem voava numa determinada companhia e resgatava. Hoje, esta
é só mais uma fonte”, explica Medeiros, referindo-se o fato de que apenas 13%
dos pontos emitidos no primeiro semestre de 2017 no setor de fidelidade vieram
de viagens (no sentido oposto, 77% dos
pontos foram trocados por passagens aéreas).
As principais
fontes para o acúmulo são o varejo, por meio de programas de fidelidade de
coalizão como o Dotz, e os cartões de crédito. “Hoje em dia, consegue-se ganhar
milhas com tudo, desde o posto de gasolina até gastos com farmácia”, diz Max
Oliveira, fundador da empresa de compra e vendas de milhas MaxMilhas.
2. Pague no
crédito
O cartão de
crédito é a principal ferramenta para acumular pontos hoje. Cada banco tem seu
programa. Por exemplo: os pontos gerados nos cartões de crédito do Banco do
Brasil e Bradesco vão para o programa Livelo. No caso do Santander, Esfera. É
preciso descobrir se o seu cartão de crédito é elegível para estes programas e
ativar o cadastro. A concentração de gastos no cartão é uma orientação básica
para turbinar pontos sem gastar mais no dia a dia. “Você acumula os pontos
usando o cartão para comprar um pão, para pagar boletos, para supermercado”,
explica Frare. Neste caso, também é fundamental entender como funciona o
acúmulo de pontos em seu cartão — eles podem gerar desde uma até mais de duas
milhas por dólar gasto. Alguns têm metas mensais de gastos que podem
multiplicar os pontos. “Os clientes devem procurar cartões de crédito que
pontuam mais”, sugere Tiago Trindade, da Central Milhas.
3. Escolha a
companhia aérea
Se o objetivo
final é viajar com milhas, a recomendação é descobrir que companhia tem os voos
mais interessantes nas rotas que você quer fazer. É para o programa de
fidelidade desta empresa — Smiles (Gol), Multiplus (Latam), Amigo (Avianca) ou
TudoAzul (Azul) — que você vai querer transferir os pontos acumulados no cartão
de crédito, explica Max Oliveira. Na hora de comprar passagens, também vale a
pena optar pela mesma companhia se a diferença de preços for pequena.
Pulverizar milhas em vários programas geralmente significa perder boa parte
delas, porque os pontos acabam vencendo antes de atingirem valores suficientes
para o resgate de passagens. “Um [dos segredos] é escolher uma companhia ou
aliança de companhias e tentar voar sempre com a mesma. Às vezes uma diferença
pequena de tarifa não compensa trocar de aliança”, sugere Frare.
4. Não
transfira ainda
As companhias
aéreas são o destino final dos pontos gerados em programas de fidelidade.
Depois de transferi-los para um programa de milhagem, você só tem duas saídas:
usá-los para resgatar passagens ou vendê-los em sites de compra e venda de
milhas, que não são unanimidade no setor (leia mais abaixo). Por isso, a dica é
acumular os pontos nos programas dos cartões de crédito, que funcionam como
intermediários: dali, a transferência pode ser feita para qualquer companhia
aérea.
Também tem hora
certa para fazer isso. São frequentes nos programas de fidelidade das
companhias aéreas promoções de bonificação para a transferência de pontos —
algumas chegam a oferecer 100%. O resultado é que você pode ter milhas em dobro
se esperar o melhor momento para transferir. É assim que muita gente consegue
multiplicar suas milhas. “Nunca transfira sem bonificação”, recomenda Tiago
Trindade, da Central Milhas. “Toda semana tem alguma promoção.”
A desvantagem
deste método é a demora para transferir os pontos do cartão para o programa de
milhas, que pode levar alguns dias e fazer o cliente perder alguma promoção de
ocasião. Neste caso, uma das opções oferecidas pelas empresas é transferência
imediata mediante o pagamento de uma taxa em pontos.
5. Pontos têm
validade
Segundo a
ABEMF, a taxa de “breakage”, que mede a quantidade de pontos ou milhas
expirados, está em torno de 17% no país. Como o acúmulo leva tempo, é
fundamental entender a validade dos pontos, que costuma ser entre dois e três
anos — cada programa tem suas regras. “Eu tenho uma planilha e anoto na agenda
o vencimento de milhas com 6 meses de antecedência para dar tempo de programar
alguma coisa caso na correria eu perca o controle”, explica Frare. “Já tive que
emitir passagem de um dia para o outro porque as milhas iriam vencer no dia
seguinte.” Dependendo do regulamento, uma nova data de validade pode começar a
valer quando há transferência dos pontos do cartão de crédito para o programa
de milhas aéreas.
6. Não troque
por sanduicheira
Alguns dos
principais programas de fidelidade usam o sistema de coalizão, em que é
possível usar os pontos para trocar por produtos como eletrodomésticos. “Essas
compras não compensam”, diz Trindade. “Em geral, eles pedem muitas milhas para
um produto que poderia ser comprado por um valor menor do que elas valem.”
Procure um
destino e faça simulações para lugares que você gostaria de i, assim dá para ir
entendo quanto custam as milhas. Foto: Visualhunt
Procure um
destino e faça simulações para lugares que você gostaria de i, assim dá para ir
entendo quanto custam as milhas. Foto: Visualhunt
7. Pesquise
Você não
precisa se tornar um expert no assunto — tem um monte de gente por aí que já é
e compartilha dicas na web. Entre as recomendações de Vicente Frare, Tiago
Trindade e Max Oliveira, estão os sites Melhores Destinos, Mestre das Milhas e
Passageiro de Primeira. Uma das sugestões de Frare é entrar nos sites das
companhias e simular viagens “para começar a ficar familiarizado com o assunto,
saber quantas milhas custa cada trecho, o que é promoção, o que é uma ‘passagem
de milhas cara’ por exemplo”. No mais, os sites dos programas de fidelidade são
bastante autoexplicativos, sugere Roberto Medeiros, presidente da ABEMF. “Eles
têm muitos tutoriais e explicações sobre como acumular ou resgatar.”
Compra e venda
não é autorizada pelas companhias, mas mercado segue crescendo
Tanto a Central
Milhas quanto a MaxMilhas trabalham com um mesmo sistema. Elas servem como
intermediárias para pessoas que têm milhas acumuladas e querem vendê-las para
quem não tem.
Funciona assim:
as empresas pagam adiantado pelas milhas dos usuários que querem vender seus
pontos. Eles, então, passam as senhas de seus cartões fidelidade para que as
elas emitam passagens para outros clientes — de agências de viagens a pessoas
físicas.
Trata-se de um
mercado paralelo e não regulamentado, que não é aconselhado pela Associação
Brasileira das Empresas do Mercado de Fidelização (ABEMF) — para o presidente
da organização, Roberto Medeiros, a operação envolve riscos, porque o dono dos
pontos precisa dar sua senha para as empresas. O processo também não é
autorizado pelos contratos de adesão dos programas de fidelidade das companhias
aéreas.
Mas a prática
não é proibida por lei, e este mercado vem crescendo, na avaliação de Tiago
Trindade, da Central Milhas, e Max Oliveira, da MaxMilhas.
“O crescimento
está muito grande. Venho recebendo muitas cotações grandes. Quando abri, há
sete anos, isso não existia”, conta Trindade.
Para Max
Oliveira, as companhias aéreas também têm a ganhar com este mercado. “O
brasileiro ainda viaja muito pouco. Estamos fazendo as pessoas usarem mais o
sistema de fidelidade. As companhias aéreas também têm essa missão.”
Fonte: Gazeta
do Povo
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