Sabor que veio para ficar

A cerveja artesanal entrou no circuito alternativo, restrita a pequenos redutos de apreciadores. Mas o que começou como um hobby para pessoas que buscavam uma bebida especial hoje representa um negócio em plena ascensão, formado por um nicho de pequenos empreendedores que se multiplicam por feiras espalhadas pelo país. A produção de cervejas artesanais cresce, enquanto as grandes corporações do setor amargam queda. Eles vieram pra ficar.

A avaliação faz parte de um relatório do Instituto da Cerveja Brasil (ICB). Segundo o levantamento, a previsão é que o número de cervejarias artesanais no Brasil chegue a 500 neste ano. “O crescimento dos produtores artesanais é de 30% ao ano, enquanto a grande indústria registra queda em torno de 5%”, avalia José Renato Romão, que produz a BrewPoint e comanda uma fábrica em Petrópolis, na Região Serrana do estado do Rio.


Atualmente, há 432 cervejarias artesanais no Brasil, com uma concentração de 91% nas regiões Sul e Sudeste. Segundo a previsão do setor, haverá um acréscimo de pelo menos outros 68 pequenos produtores estabelecidos no país. Os números positivos do ICB, publicados em dezembro do ano passado, vão ao encontro das projeções de investimento. David Figueira é sócio da Lamas Brew Shop, que vende matéria-prima e equipamentos para o produtor artesanal. É a maior loja de e-commerce do setor.

Para o segundo semestre, a empresa, que conta com lojas físicas em São Paulo e Belo Horizonte, vai abrir uma filial no Rio. “Será um verdadeiro supermercado para o produtor artesanal. Vendemos desde malte, lúpulo e fermento a baldes e barris”, enumera o empresário, que calcula ter faturado R$ 12 milhões no ano passado.

José Renato Romão, da BrewPoint, planeja chegar a 48 mil litros produzidos em sua fábrica até o fim de 2018. As metas iniciais já foram atingidas: “Inauguramos em dezembro. E, em cinco meses, atingimos o patamar que prevíamos para um ano de atividade: mais de 10 mil litros produzidos”.

Tanto David Figueira quanto José Renato começaram no ramo de cervejas artesanais por lazer. Ao observarem as lacunas do mercado, decidiram apostar todas as fichas no setor e montaram negócios para ajudar outros a empreenderem no setor.

Na sua fábrica, José Renato abriga outros 14 cervejeiros artesanais. “Nossas expectativas foram superadas”, diz. Enquanto isso, as gigantes do setor sentem o impacto da crise, registrando queda nos lucros líquidos acima de 20% no primeiro trimestre deste ano, em comparação a 2016. E observam o crescimento de pequenos cervejeiros.

Grandes empresas de olho no mercado
O mercado de cervejas artesanais não passou despercebido pelas empresas de grande porte do setor no país. A Ambev, por exemplo, começou a apostar nesse ramo em 2015, quando passou a adotar a estratégia de investir em cervejas especiais. Hoje, a empresa é dona de marcas de expressão nesse segmento, como Colorado, Wäls, Goose Island e outras fabricadas pela Bohemia. Uma aposta que também exigiu uma busca por profissionais qualificados.

É o caso de Charleston Agrícola, beer sommelier de cervejas da Ambev desde fevereiro do ano passado. A função exige capacitação para fazer análises técnicas, sensoriais e harmonizações de rótulos de cervejas artesanais com refeições. “O meu trabalho é ser uma espécie de embaixador das cervejas artesanais, ensinando como o garçom pode fazer o atendimento, para que eles conheçam o produto que estão oferecendo. A minha principal responsabilidade é pela disseminação da cultura cervejeira”, explica Charleston, com o status de quem fez curso de especialização no Senac, intercâmbio de um ano nos Estados Unidos, onde teve acesso a uma pequena fábrica e já produziu a sua própria cerveja especial.

E, nos últimos anos, Charleston percebe um crescimento do setor. “Hoje, existem cervejas especiais em eventos, bares e supermercados, bem mais acessíveis. As pessoas estão se interessando pela cerveja artesanal. E a companhia está ouvindo o que o consumidor está buscando”, argumenta.


Fonte: Bernardo Costa / O Dia - RJ

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